Uma gargalhada pode aliviar tensões, despachar o estresse, nos faz esquecer temporariamente de problemas e dá uma sensação de relaxamento e bem-estar sem igual. Isso porque, quando rimos, ocorre liberação de endorfina, uma morfina natural que traz benefícios ao coração, pulmão e torna o sistema imunológico mais resistente a resfriado e infecções. O riso nos acompanha desde a mais tenra idade – acredita-se que o primeiro sorriso é involuntário, mas a criança segue praticando-o, pois compreende suas boas reações e interatividade social – até o último motivo para sorrir, não importa se a pessoa é cega, surda ou da mais remota civilização. As crianças riem mais que os adultos, em média 300 a 400 vezes por dia.
O riso é uma reação neurológica, pode ser estimulado por cócegas, uma anedota engraçada, uma careta ridiculamente fútil e até por outro riso. Mas o que é engraçado para alguns pode não ser para outros. É o exemplo de piadas de cunho preconceituoso, elas costumam provocar religião, região economicamente menos desenvolvida, opção sexual etc., todas na tentativa – consciente ou inconscientemente – de se sentir superior ao provocado, é o chamado Humor de Superioridade. O fundador da psicanálise, Sigmud Freud, estudou piadas e humor (inclusive o utilizava para quebrar o gelo e se aproximar de pacientes), em seu livro A Piada e suas Relação com o Inconsciente, de 1928, Freud dizia que "o humor é um construtor de ego e o riso é um potencial triunfo do ego. E por meio dele as pessoas se recusam a sofrer e aumentam a invencibilidade do seu ego”.
Cientistas descobriram que uma boa gargalhada é um verdadeiro exercício aeróbico. Sua prática ventila os pulmões, relaxa e aquece os músculos, nervos e coração; aumenta a pressão arterial, melhora a circulação e aumenta a inalação e exalação do ar; acelera os batimentos cardíacos; também exercita grupos musculares das pernas, diafragma, abdome, braços e ombros. 100 a 200 risadas em média equivalem a 10 minutos de corrida. Sem custo, eficiente e, acima de tudo, divertido – um exercício ideal.
É muito conhecida a expressão "morrer de rir", embora o humor não mate, já se chegou perto disso. Foi no distrito de Bukoba, Tanzânia, onde ocorreu uma epidemia de riso na década de 1960. Começou com duas crianças na escola, que riam incontinenti e logo contagiaram a sala, e em questão de minutos, toda a escola. As crianças foram às suas casas e logo seus pais contraíram a crise de riso. A epidemia ganhou grandes proporções e atingiu vilas vizinhas; escolas e comércios foram fechados. Todas as tentativas de controlar as gargalhadas eram frustradas, na verdade, elas provocavam efeito colateral e desencadeavam mais risos. Alguns choravam de tanto rir e vários tiveram de ser levados a hospitais devido à exaustão. O fato está registrado em um dos relatórios médicos de A. H. Rankin e R. J. Philip, publicado no Central African Journal of Medicine (Jornal de Medicina da África Central, vol. 9, 1963). Sem dúvida um dos mais estranhos acontecimentos relativos ao humor.
Linha do tempo do Riso
Origem do riso: há várias teorias sobre sua origem. Charles Darwin afirmava ser uma sofisticação do ato de mostrar os dentes dos macacos, eles o fazem para demonstrar que não se sentem ameaçados. Alguns teóricos dizem que o riso é uma exclusividade dos seres humanos, outros acreditam estar presente em outras espécies, seria o equivalente, por exemplo, ao abanar de rabo de um cachorro.
Era ágrafa: estudos afirmam que os homo sapiens caçadores praticavam um humor macabro e riam de suas presas abatidas enquanto agonizavam. Quanto mais lenta e dolorosa a morte, mais divertida.
Neolítico: os sumérios escreveram as piadas mais antigas da humanidade de que se tem registro. Bem como as sociedades modernas, eles transformavam desgraça em humor e gozavam de autoridades. Em um registro sumério pode-se ler: “Não é preciso temer o rei, mas sim os cobradores de imposto”.
Grécia Antiga: nasceu o dramaturgo Aristófanes (447 a.C. - 385 a.C.), escritor de mais de 40 comédias. Em 400 anos antes de Cristo ele já fazia piada com a extensão do dedo médio, um gesto ofensivo bastante conhecido até hoje... e alguns creem ser um insulto moderno. Aristófanes é o maior representante da comédia Antiga.
Roma Antiga: os cidadãos romanos se divertiam com as lutas de gladiadores, contendas sangrentas e que frequentemente findavam na morte dos combatentes. Ninguém podia rir impunemente dos reis e imperadores.
Idade Média: no século IV a Igreja Católica decretou a comédia uma manifestação ultrajante. Escritores do gênero foram excomungados e o teatro cômico foi banido da Europa por cerca de 1000 anos, mas voltaria mesmo contra a vontade do clero católico. Com o ressurgimento da comédia nasceram o Festival dos Bobos, o circo e a figura do bobo da corte. Personagem curioso, o bobo da corte tinha o dever de divertir monarcas, caso não cumprisse a tarefa, seria punido com açoitamento ou até mesmo condenado à morte; ele tinha o poder exclusivo de criticar livremente todos, inclusive o rei. Luís IX (1214 - 1270), rei da França, ria, mas não às sextas-feiras, dia da morte de Jesus Cristo.
Século XVIII: os espetáculos circenses eram tensos, o público a toda hora temia a queda de um acrobata ou um erro no arremesso de facas. A fim de distrair a plateia, eram contratados comediantes para atuar entre uma performance e outra. Joseph Grimaldi (1778 – 1837), um dos encarregados dessa tarefa, se baseou na imagem do Pierrot do teatro italiano e abusou da maquiagem e roupas espalhafatosas; surgia o palhaço moderno.
Era Vitoriana (período do reinado de rainha Vitória): uma ressaca desenxabida da Idade Média abateu o Reino Unido do século XIX, o riso foi definido como um “produto da mente imatura”, era considerado ofensivo, rude e não civilizado. Tentaram forçosamente extirpar o direito de sorrir dos cidadãos.
Início do século XX: a comédia pastelão imperava nos cinemas. Ainda não havia filmes sonoros, as piadas eram visuais. Foi a época de ouro da pantomima, quando se revelaram gênios do quilate de Harold Lloyd, Buster Keaton e Charles Chaplin.
1950: com o advento da TV, surgem dezenas de programas de humor. Os produtores descobrem que o riso é contagiante e inserem risadas previamente gravadas no áudio de séries cômicas.
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Polydoro, o primeiro palhaço brasileiro. Programa Almanaque Brasil. 27/11/2010
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